No fim de semana que passou fui à Festa Lá em Cima, uma festa mensal aqui em Fortaleza onde geralmente só tocam Disco, Soul e black music dos anos 1970 e 80. Talvez a música mais atual tenha sido Pump Up the Jam, do Technotronic, que por sinal foi um dos pontos altos da noite.
Depois dessa última edição o que me chamou a atenção foi o perfil do público que estava longe de ser o que normalmente se espera de um evento onde a música tocada mais “nova” foi lançada há 34 anos (sim, estamos cantando o pomperô desde 1989). No lugar de cinquentões ou sessentões querendo se divertir ouvindo as músicas de sua juventude, arrisco dizer que a grande maioria dos presentes era formada pelos filhos, ou até netos, de quem vivenciou o auge da Disco e cresceu ouvindo Donna Summer, Sylvester e Earth, Wind and Fire. Eu, com meus 39 anos, com certeza estava entre os com idade acima da média geral.
Numa conversa recente com amigos, nos perguntamos se a atual geração de jovens tem contato com música antiga da mesma forma que tivemos. Depois de sabermos que uma participante do BBB 23 disse não saber quem era a banda Skank (?!) quando eles foram tocar na casa, ficamos imaginando se o consumo de música como é hoje tem algo a ver com isso.
No meu tempo (eu sei), a música que a gente consumia era em grande parte o que era empurrado pra gente pelo rádio, TV ou cinema. O que fugia disso era o que vinha dos meus pais, tios e primos mais velhos que traziam todo um repertório vindo dos anos 1960 e 70, sem contar com o que vinha dos meus avós. Tendo nascido no começo dos anos 80, é normal que meu gosto musical passeie por essas décadas, indo de Beatles e Mutantes a Madonna e Marina Lima, passando por Elton John, Prince, Rita Lee, Barry White, Michael Jackson, Caetano Veloso, Whitney Houston, George Michael, Tim Maia, Sade, Gloria Estefan, Lulu Santos, Stevie Wonder e o que mais embalasse as várias festas (foram várias mesmo) que minha família – tanto pelo lado do meu pai quanto da minha mãe – faziam.
Hoje temos acesso a praticamente qualquer música na palma da mão, o que em tese tornaria mais fácil que mais gente tivesse acesso ao acervo desses artistas consagrados. Mas a impressão que eu tenho é que toda uma geração está crescendo sem conhecer esses clássicos e tem consumido só o que também é empurrado pra eles, só que dessa vez pelo TikTok ou Instagram.
Não quero ser o tiozão saudosista chato que diz que “no meu tempo é que era bom” (na verdade, não suporto esse sentimento. Ele anda lado a lado com “o mundo tá ficando muito chato”). Eu sei que as coisas mudam (duh!). A cultura, a tecnologia, a moda, os costumes vão sempre ser diferentes do que foram há alguns anos. O que me incomoda é essa falta de conhecimento que às vezes vem até acompanhado de um orgulho da própria ignorância, pois “pra que eu vou escutar essas músicas de velho?”
Talvez os próprios pais dos jovens de hoje não apresentem essas músicas aos filhos. Ou talvez seja só mesmo uma questão geracional e em 2050 aconteça um revival dos CDs e os jovens façam festas onde os DJs só toquem os clássicos dos anos 2000 como Britney Spears, Destiny’s Child, Black Eyed Peas e mesmo Skank. Pode ser até que nunca saberemos de certo o motivo, mas ter participado de uma festa onde boa parte do público tinha a metade da idade de algumas das músicas tocadas, me fez criar esperanças e pensar que nem tudo está perdido. Algumas músicas – ou estilos – vão sempre resistir aos efeitos do tempo. O último álbum da Beyoncé tá aí como prova.
Dicas da semana
Daisy Jones and The Six exibiu seu último episódio na sexta-feira passada e, apesar de eu não ter exatamente amado tudo na série do Prime Video, os últimos episódios foram ótimos e emocionantes. Baseado no livro da Taylor Jenkins Reid, a série se passa nos anos 1970, em formato de pseudodocumentário, e acompanha a banda do título, que é claramente baseada na conturbada e maravilhosa Fleetwood Mac. Uma das personagens é a cantora Simone (interpretada pela baiana Nabiyah Be) que quer ser uma diva da Disco.
Daft Punk está comemorando 10 anos do álbum Random Access Memories - que tem participação do mestre da Disco Music, Giorgio Moroder - e anunciou para o dia 12 de maio o lançamento de uma edição especial com gravações inéditas, demos e raridades. Como a dupla acabou oficialmente em 2021, isto é o mais próximo que teremos de músicas novas vindas do duo, pelo menos até eles anunciarem um retorno (dedos cruzados). Pra segurar um pouco a nossa ansiedade, eles liberaram uma dessas novas músicas, que na verdade é uma gravação da sessão de estúdio onde eles compuseram Fragments of Time.
Apesar do brilho e glamour das discotecas, os anos 1970 no Brasil não foram nem um pouco fáceis, e parece que muita gente tem se esquecido o porquê. Ouvindo Vozes é o primeiro episódio de Rádio Novelo Apresenta, um podcast fantástico onde a cada semana histórias dos mais variados temas são contadas de um jeito que você não consegue parar de ouvir. Poderia ter sugerido vários outros episódios incríveis, mas escolhi este pela importância de não deixar esse terrível capítulo da nossa história ser esquecido.
Esse é mais um do que espero ser vários textos que pretendo publicar por aqui. Ainda não sei qual será a frequência, mas vou me esforçar para que seja algo semanal.
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